terça-feira, 11 de agosto de 2015

ESPIRITISMO, RELIGIÃO DO FUTURO? - por Sidney Fernandes


Amados, não creiais em todos os espíritos, mas verificai se os espíritos procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.

1 João 4:1

O inferno é uma prisão estreita, escura e malcheirosa, a residência de demônios e almas perdidas, no meio de fogo e fumaça.

Drauzio Varella, Carcereiros


Desde tempos imemoriais, entrando na era cristã, passando pela tenebrosa idade média e, mesmo com as transformações do renascimento e dos avanços do século XIX, chegamos à modernidade com ideias não definidas e nada convincentes a respeito do homem e de seu destino.

Luminares da estatura de Lutero, Santo Agostinho, Victor Hugo, Dante Alighieri, Shakespeare e muitos outros que se destacaram na história da humanidade tentaram, com as informações de que dispunham, porém limitados e pressionados pelas injunções filosóficas e religiosas de suas épocas, dar um novo rumo às crenças e valores humanos.

E conseguiram, à sua moda, impulsionar o homem a dar preciosos passos evolutivos.

De Kardec aos nossos dias, tivemos inegáveis avanços em todas as áreas do conhecimento humano. 

Não por falta de informações ou bases culturais, todavia, alguns mistérios permanecem indecifráveis, por conveniência religiosa, acomodamento econômico ou simplesmente por ausência de estudo e pesquisa.

Insanidades, perturbações psíquicas, medos, fobias, dores e doenças de origem desconhecida, opções sexuais, aparições, possessões e visões do além ainda não têm interpretação adequada.

Não obstante o conhecimento e as informações catalogadas pela ciência e pela mídia, esses assuntos são preconceituosamente enfeixados e rotulados à conta de inexplicáveis ou, de forma acomodatícia, como indecifráveis.

Bastaria que o homem atual se abeberasse dos conhecimentos que estão aí, à sua disposição, e inúmeras situações seriam esclarecidas.

A influência dos Espíritos em nossas vidas, os traumas oriundos de outras encarnações, a emancipação da alma, as consequências de desvarios do passado, a manifestação de faculdades psíquicas e o medo da morte são assuntos que vão perdendo o halo fantasmagórico, graças a informações ao alcance não somente dos espíritas.

Tratar manifestações mediúnicas como originárias do demônio ou defender a existência de infernos irremissíveis soa como incongruência inadmissível diante do atual conhecimento humano.

Filmes como Além da eternidade, Ghost, O sexto sentido, Além da vida, Nosso lar e E a vida continua, só para citarmos os mais conhecidos, já não são mais lançados à fogueira do preconceito e da ignorância. Ao contrário, são bem aceitos pela crítica e elogiados pela sociedade. São tratados como valiosas revelações, não necessariamente oriundas do conhecimento espírita.

O espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões. A célebre frase que, de certa forma, resume o pensamento de Léon Denis, prevê que as ligações do homem com Deus ocorrerão sem intermediários, sem cultos, sem dogmas que contrariem a razão, como acontece hoje com a Doutrina Espírita.

E a boa notícia é que já dá para perceber como as religiões já evoluíram e se aproximam, claramente, dos valores espíritas.

Muito temos ainda a caminhar. As legiões de espíritos pouco evoluídos que irão reencarnar na Terra representam bem os momentos de convulsão ainda por vir.

É forçoso, no entanto, reconhecer que os tempos são outros e que o progresso indefectível adquire velocidade cada vez mais vertiginosa.

O conhecimento está à disposição da humanidade. A informática e outros modernos meios de comunicação e de pesquisa tendem a escancarar, em futuro não muito distante, os preciosos conhecimentos do espírito.

Oxalá a humanidade faça bom uso dessas verdades!

Faz cinquenta anos que os espíritas sabem o que a ciência pretende hoje descobrir.

Léon Denis, em 1905, no Congresso Espírita de Liège, Bélgica

terça-feira, 26 de maio de 2015

O ANEL DE GIGES


Sidney Fernandes - 1948@uol.com.br

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. 

Mateus, 26:41

Um jovem entra numa loja de roupas maravilhosas e encanta-se com uma peça. Não pode comprá-la, pois não tem dinheiro. Todos os seus amigos têm roupas daquela marca, menos ele. O intenso desejo que tem de possuir aquele bem lhe traz ideias não muito dignas.

— Será que se eu, com muito cuidado... Não, não posso! O segurança está olhando. E esta loja tem um sistema moderno de vigilância eletrônica. E se eu for pego, complicarei minha vida.

A cena que acabamos de imaginar não representa, certamente, um modelo de virtudes. Não se trata de honestidade e sim de precaução. Ali não existe moral, somente prudência.

Quer o caro leitor uma prova disso?

Imaginemos que aquele jovem tivesse o célebre Anel de Giges, concebido por Platão na lenda que integra a sua obra A República, e que o tornaria invisível, sempre que desejasse.

Ainda assim ele conseguiria conter o seu ímpeto de furtar a roupa?

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O personagem da lenda de Platão é um pastor chamado Giges, que encontra, por acaso, uma caverna onde jaz um cadáver que usava um anel. Quando Giges enfia o anel no próprio dedo, descobre que esse o torna invisível. 

A partir daí, não havendo mais vigilância ou testemunhas, Giges, que era tido como um homem honesto, passa a praticar más ações. Seduz a rainha, mata o rei e toma posse do reino.

Essa história levanta uma indagação moral: algum homem seria capaz de resistir à tentação se soubesse que seus atos não seriam reprimidos? Será que o bom e o mau só se distinguem pela prudência ou pela habilidade maior ou menor para se esconder? Se ambos tivessem o anel de Giges, tenderiam para o mesmo fim? 

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Examinemos, inicialmente, algumas orientações oriundas de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, sobre a moral. 

Alguns Espíritos já trazem de vidas passadas a astúcia, a deslealdade, a traição, o pendor para o roubo e até para o assassínio. Outros são colocados em ambientes propícios, onde possam lutar contra esses maus instintos.

Além do ambiente, certos tipos de provação, a riqueza por exemplo, oferecem arrastamentos muito semelhantes ao da invisibilidade do Anel de Giges.

Todos se deixam seduzir pelo dinheiro? Depende do seu caráter, advertem os Espíritos superiores. Uns se tornam avaros, outros pródigos, alguns pendem para o egoísmo e outros, ainda, se distinguem por sua generosidade. Há alguns que se mantêm na disciplina, mas vários têm propensão para a sensualidade.

O poder, o dinheiro, a fama ou a posição social não conferem ao homem uma espécie de invisibilidade? Não o poupa de muitas inconveniências? Não obstante, diante das mesmas circunstâncias, muitas criaturas se comportam, mantêm sua dignidade e vencem essas provações.

Como venceram? Tiveram bom ambiente e boa educação em sua infância ou simplesmente são Espíritos que desde cedo tomaram um caminho que agora os exime de muitas provas? 

Há, infelizmente, uma grande maioria que, com ou sem o Anel de Giges, se deixa arrastar para o mau caminho.

Talvez o caro leitor esteja querendo indagar, tal como fez Kardec: 

— Não será, entretanto, legítimo o desejo de possuir?

— Há homens insaciáveis que acumulam bens apenas para saciar suas paixões. Aquele que, ao contrário, junta pelo seu trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade e Deus abençoa o seu trabalho - respondem os Espíritos.

Lembro-me de um personagem de Dostoievski que dizia:

— Se Deus não existe, tudo é permitido!

Se fosse dessa forma, estaríamos diante do fim da ética. Acreditando ou não em um poder maior, o homem não pode se permitir a tudo. O que guarda a moral simplesmente por temer as consequências ou para merecer alguma recompensa não é virtuoso, e sim egoísta prudente.

A ética baseia-se em três pilares: quero, posso e devo. Quando eu tenho paz de espírito? Tenho paz de espírito quando aquilo que quero é o que eu posso e o que eu devo. Isto é, meus anseios mais íntimos devem se conciliar com as regras sociais e com as leis divinas.

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Quando desencarnamos não ficamos invisíveis? Não podemos, como faria Giges, ir para onde bem entendermos, sem sermos detectados ou identificados? Como agem os Espíritos quando se desligam de seus corpos? 

A vida verdadeira é a espiritual. Com a morte, o Espírito retorna ao mundo a que realmente pertence e do qual se afastou momentaneamente. Mantém a sua individualidade, bem como a aparência de sua última encarnação, em seu perispírito.

— Que sensação o Espírito tem quando se reconhece de volta ao mundo dos Espíritos?

— Depende - respondem os Espíritos a Allan Kardec, na questão 159, de O Livro dos Espíritos.

— Se praticou o mal, sentir-se-á envergonhado de tê-lo praticado. Se foi justo, sentir-se-á aliviado de grande peso, sem temor de encarar o olhar de quem quer que seja.

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Encarnados ou não, nossas atitudes refletem o nosso estágio evolutivo. O que nos impele à prática do bem? 

Inicialmente o interesse. Começo a praticar o bem impulsionado pelo desejo de aliviar minhas dores, curar minhas doenças ou vencer minhas inquietações. O pensar em mim mesmo constrói em mim uma atitude pragmática de troca. Uso o bem como mercadoria de barganha.

Com o passar do tempo, conscientizo-me de que fazer o bem é minha obrigação, como ser social, como filho de Deus e como corresponsável pela evolução do plano em que me encontro. Esses são passos que me levam ao amor desinteressado pelo semelhante, ingrediente essencial da vocação de servir.

Da mesma forma, perante a ética passo por alguns estágios. No primeiro momento, cumpro regras sociais e morais, por medo. Isto é, temo as consequências dos que me fiscalizam e vigiam.

O passo seguinte é o do dever de cumprir regras, por educação e consciência. É uma questão de obrigação comigo mesmo.

O estágio final é o vivido por criaturas que já venceram o mal e somente pensam e agem no bem. Esses já vivem a atmosfera dos mundos superiores, onde o bem já se tornou um hábito. Para essas pessoas, o bem constitui a regra, e uma só intenção maligna seria monstruosa exceção.

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Entrevistando milhares de Espíritos que na Terra ocuparam diversas classes sociais e acompanhando suas vidas espíritas, Allan Kardec concluiu que os seus sofrimentos guardavam direta correlação com os seus procedimentos, quando encarnados. Experimentavam agora as consequências de seus atos. Em outras palavras, a outra vida é plena de venturas para os que seguiram o bom caminho.

A conclusão a que o codificador chega é emblemática: os que sofrem é porque querem, e só de si mesmos devem se queixar, na Terra ou além da Terra.

Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem qualquer esforço. Esses, com o Anel de Giges - da lenda de Platão - ou com a invisibilidade que a ausência de corpo físico lhes confere, não precisam mais lutar contra as tentações. Venceram-nas, porque o progresso neles já se realizou. 



Os bons sentimentos nenhum esforço lhes custa e suas boas ações lhes parecem simplíssimas. 

O Livro dos Espíritos, questão 894

Finalizamos, amigo leitor, lembrando que a invisibilidade de Giges, dos poderosos encarnados ou dos desencarnados, pode propiciar momentâneo, porém fugaz, poder, mas nunca a impunidade. Permanece a nossa responsabilidade de Espíritos em evolução.

Os homens semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.

Allan Kardec

quinta-feira, 30 de abril de 2015

AS APARÊNCIAS ENGANAM

Num dia de 1883, Gabriel Delanne recebeu uma carta de uma senhora, pedindo-lhe para ir a Versalhes, onde ela morava, a fim de lhe dar conhecimento de uma coisa importante referente ao Espiritismo. Lendo essa carta, Delanne teve a impressão de rece­ber uma coisa bem ridícula e de que iria perder o seu tempo. Mesmo assim, resolveu dar atenção à pobre senhora.

Tocou a campainha de uma humilde casa. Esperou um bom momento e ia retirar-se, porém, lo­go depois, tocou novamente uma segunda e uma terceira vez.

— Que deseja? - ­ perguntou velha e desgrenhada senhora. Dellane mostrou a carta que havia recebido. 

— Entre! Entre - disse ela, entusiasmada.

Delanne, com um rápido exame observava sua interlocutora. Com um terrível acento inglês, a mulher falava repetida­mente que desejava fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo. 

— Mas, senhora, é preciso dinheiro, porque isso custa caro - objetou Delanne.

Então, de uma das bolsas ela tirou cinco notas de mil francos, que colocou tranquilamente diante de Delanne. 

— Aqui está, disse ela, para as primeiras despesas. Aceita redigir o jornal? 

— Sim, articulou Delanne, e lhe agradeço, se­nhora, pelo interesse que parece ter pela difusão do Espi­ritismo.

Delanne se sentiu aliviado por ter dado atenção àquela senhora, embora inicialmente tenha se deixado levar pelas aparências. Foi graças a essa generosa inglesa, que não era outra senão a Sra. D'Espérance, ainda desconhecida na França naquela época, que a revista Le Spiritisme veio a lume.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia, cheios de hipocrisia e de iniquidade.

A forte metáfora de Jesus, contida no capítulo 23 das anotações de Mateus, indica que nem sempre a aparência reflete o interior de alguém.

E Allan Kardec, no item 350 de O Livro dos Médiuns, faz uma oportuna observação:

Que importa crer nos Espíritos, se isso não nos torna melhores, mais benignos, mais indulgentes, mais humildes e pacientes? Assim, todos os homens poderiam acreditar nas manifestações dos espíritos e a humanidade ficar estacionária.

Não é o rótulo, a aparência, o poder, a cultura ou a posição social que ocupamos aqui na Terra que vão determinar a nossa situação além desta vida. O que temos em nosso interior é o que realmente vai contar.

Diz André Luiz que é dever do espírita cristão verificar, de vez em quando, com rigoroso exame pessoal, a sua verdadeira situação íntima. E afirma com energia:

Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário.

Por meio de um periódico balanço, constataremos se o nosso interior está correspondendo às nossas aparências. E esse exame deve ser feito agora, enquanto temos tempo de desfazer nossos enganos. Ao passarmos para o lado de lá, poderá ser muito mais difícil.

As aparências enganam. Parece que é, mas não é. Talvez aqui na Terra as coisas possam ser assim. Na espiritualidade, porém, as coisas são bem diferentes. A nossa transformação e o nosso esforço irão refletir, efetivamente, o estágio evolutivo que conseguimos alcançar.


quarta-feira, 15 de abril de 2015

O Programa DESPERTAR, produzido pela TV CEAC –estará um pouco diferente. O apresentador Sidney Fernandes desta vez será o entrevistado, ao lado de Renato Leandro, um dos responsáveis pela CEAC EDITORA.

Renato Leandro apresentará o novo livro de autoria de Sidney Fernandes, SER FELIZ É UMA ARTE. O entrevistador será Luiz Antonio de Mello, que pediu a Sidney que falasse de seus livros anteriores e do seu lançamento.

Lembramos ainda que, nesse ínterim, Sidney já escreveu a continuação de SER FELIZ É UMA ARTE, livro que receberá o nome de SER FELIZ É UMA DECISÃO, e que será lançado no próximo mês de junho também pela CEAC EDITORA.

O PROGRAMA DESPERTAR com Sidney Fernandes e Renato Leandro, apresentado por Antonio de Mello, vai ao ar pela TV PREVE nos dias 22 e 24 de abril de 2015 – respectivamente às 9 h e às 15h30.

Rádio e TV CEAC

Centro espírita Amor e Caridade

Bauru SP



www.tvceac.com.br


TV PREVE

Uma TV Educativa que está conquistando Bauru e toda a região. O pioneirismo nesta modalidade de comunicação tem proporcionado à TV PREVE uma significativa audiência junto a coletividade bauruense. Por ser uma emissora educativa, sua programação tem sido dirigida para evidenciar as coisas e a gente de Bauru e região, mostrando principalmente os aspectos positivos de que se reveste.

Bauru SP




sábado, 11 de abril de 2015

DÁDIVAS DOS CÉUS

Olhais para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

Mateus, 6:26

Padre Gonzalez fora designado para um pequeno povoado da Ilha do Marajó, ao norte do Estado do Pará.

Embora os tempos fossem outros, sabia das dificuldades que encontraria. E realmente encontrou muita fome e pobreza. Os ribeirinhos conviviam com áreas de mata fechada, campos, várzeas, e alagados, banhados pelo Rio Tocantins e pelo Oceano Atlântico.

Viviam de pequenos roçados e da pesca, cuja produtividade variava de acordo com o movimento das marés.

Gonzalez logo percebeu que, se quisesse ajudar aquela gente, não poderia esperar somente a ajuda dos céus.

Começou a estudar de que maneira poderia melhorar o padrão de vida do povoado. As distâncias dificultavam qualquer ajuda do continente. 

A pesca e os plantios não eram suficientes. Precisavam de nova fonte de renda, que lhes desse vida digna e saudável.

Como falar, no entanto, de fé em Deus a um povo de barriga vazia e com muitas doenças? Nem por isso deixava de orar. Pedia a inspiração de Nossa Senhora das Mercês, buscando uma luz.

Costumava meditar caminhando pela praia, com as águas batendo em seus pés mansamente. Foi quando algo chamou sua atenção. Castanhas espalhadas, trazidas pela água. Examinou-as cuidadosamente e levou algumas para obter mais informações.

Sementes de andiroba! Eram utilizadas pelos ribeirinhos em feridas expostas, evitando a contaminação por insetos nocivos.

Alguma coisa, todavia, dizia a Gonzalez que ali estava algo muito mais valioso. Embalou algumas castanhas e remeteu-as pelo correio da região - um barco que passava quinzenalmente - a um dos conventos do Maranhão.

Dois meses depois veio a resposta. E que resposta! Tratava-se do fruto da Carapa guianensis, cujos galhos, folhas e frutos, com o sobe desce das marés, são trazidos das florestas para a boca do Rio Paracauari, numa viagem lenta e constante em direção ao mar. Depois de flutuar por várias semanas, as castanhas acabam chegando às praias.

O mais importante, porém, estava no final da carta recebida do convento. O óleo de andiroba podia ainda ser utilizado pela indústria farmacêutica e pelas fábricas de cosméticos. 

Um tesouro em suas mãos! Uma descoberta que poderia mudar as vidas daquele povoado.

Reuniu os líderes da cidade e convenceu-os a irem em comissão a São Luiz do Maranhão. Lá descobriram uma das indústrias produtoras de óleos, que se comprometia a comprar as castanhas em quantidade e de maneira regular. 

Hoje já existe uma cooperativa para vender a produção em conjunto, evitando os atravessadores da ilha. Em breve estarão produzindo o próprio óleo, também com mercado garantido.

Cada família passou a ter um ganho extra, que elevou o padrão de vida do povoado. Continuam pescando e plantando, pois a safra do tesouro que vem da floresta e é trazido pelos rios e entregue de bandeja pelo mar ocorre durante cinco meses do ano.

Hoje o Padre Gonzalez não se encontra mais encarnado neste mundo. É lembrado, porém, com respeito e carinho pelos moradores daquele obscuro povoado, por ter mudado para sempre suas vidas

Segundo Allan Kardec, Deus, na maioria das vezes, nos sugere a ideia que nos fará sair da dificuldade pelo nosso próprio esforço.

Padre Gonzalez tinha fé! Com ela ouviu os mensageiros de Deus, mobilizou pessoas e salvou vidas. A partir daí, a realização do milagre foi apenas uma questão de tempo, dedicação, trabalho e persistência. 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O ACIDENTE

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Paulo, Romanos, cap. 8, v. 31


Podem os Espíritos tornar-se visíveis?

Podem, sobretudo, durante o sono. Entretanto algumas pessoas os veem quando acordadas, porém, isso é mais raro.

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns

E o futuro, os Espíritos o conhecem?

Ainda isto depende da elevação que tenham conquistado.

Muitas vezes, apenas o entreveem, porém nem sempre

lhes é permitido revelá-lo.

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos

Tia Tita é médium psicofônica. Trabalha no Centro Espírita Caminho do Mestre há trinta anos. Leva a sério a sua missão. Vê os Espíritos nas reuniões mediúnicas. Raramente fora delas.

Por isso, estranhou muito a vidência na via pública, a caminho de sua casa, em plena luz do dia: um grupo de Espíritos, liderados por mentor de classe elevada, reunidos para alguma missão muito importante.

Naquela noite, vários Espíritos compareceram ao "Caminho do Mestre" pedindo orações. Muitas orações. Algo muito sério poderia acontecer.

Tia Tita pediu mais detalhes. Não foi possível a revelação. Perguntou quem eram os Espíritos da vidência.

– Socorristas! Em missão de salvamento e recepção. É tudo que pode ser dito – responderam os mentores.
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No dia seguinte, ocorreu um brutal acidente ferroviário. Choque frontal entre um trem de passageiros e um trem de cargas, repleto de combustível.

Entre ferros retorcidos e um inferno de gases, fumaça e fogo, 150 mortos e 300 feridos.

Tia Tita havia sido avisada. Nada pudera fazer além de orar.

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Nem sempre os Espíritos têm permissão para nos revelar o futuro. Dão-nos, no máximo, algumas dicas, mais para que testemunhemos o andamento de um processo de resgate do que, propriamente, para que tomemos alguma providência preventiva.

Também objetivam nos conscientizar da generosidade divina, que jamais falha. Espíritos familiares ou socorristas prestam assistência às vítimas de tragédias.

Aos olhos dos homens, tais acidentes não tem explicação. Aparentemente, vidas inocentes são ceifadas pela morte, num descaso do destino. A Doutrina Espírita mostra o ângulo da espiritualidade. Nada acontece sem merecermos, tudo obedece à lei de causa e efeito.

Diz Emmanuel que, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.

E essa programação não poderia ter sido alterada? Sim, para muitos certamente o foi, consoante seus merecimentos. Provavelmente se redimiram na presente vida e conseguiram alterar seus destinos.

Os que pereceram seguiram a programação que haviam traçado para eles mesmos.

E não há casos em que o futuro é revelado ao homem? Geralmente o futuro é oculto, informa Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, e só em casos raros e excepcionais permite Deus que seja revelado.

E essas provações coletivas, além de servirem de resgate, de acordo com processos que nós mesmos engendramos, despertam o homem para a reflexão e o aprendizado de novas formas de segurança para valorização da vida.

Aprendemos com o Espiritismo a razão dos nossos sofrimentos, quando não podem ser explicados pelos atos da vida presente. Ocorre o mesmo com as provas coletivas.

Muitas vezes já renascemos no planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla (Emmanuel).

Deus jamais nos abandona! Ele é sempre por nós. E dele devemos esperar sempre o melhor. Ele nos oferece muitas oportunidades de libertação sem que, necessariamente, tenhamos que passar pelo sofrimento.

No entanto, quando insistimos em viver fora dos ditames evangélicos, sofremos as consequências dos nossos atos nesta vida, no além ou em futura encarnação.

Lamentemos, sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontarem serão igualmente nossos.

Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o Melhor.

(Emmanuel, em Chico Xavier pede licença)